A SOP, sigla para síndrome dos ovários policísticos, é uma alteração endócrina de alta prevalência que atinge, sobretudo, mulheres em idade reprodutiva. Entre os principais indícios dessa endocrinopatia está a irregularidade dos ciclos menstruais — algumas portadoras chegam a ter amenorreia (ausência de menstruação) por vários meses.
De modo geral, as manifestações da SOP estão associadas ao excesso de andrógenos (hormônios masculinos) circulantes no corpo da mulher. O quadro é chamado de hiperandrogenismo e, apesar de não causar sintomas de dor, causa impactos na vida da mulher, repercutindo em sua autoestima (devido a alterações estéticas) e em diversos aspectos da saúde (metabólicos, cardiovasculares e outros).
Outra consequência da síndrome dos ovários policísticos é a infertilidade. A SOP é responsável pela maioria dos casos de infertilidade feminina por anovulação. O fato de a menstruação não aparecer tem relação direta com a ausência de ovulação, portanto é um sinal que deve motivar a busca por avaliação médica.
Este texto aborda as causas, os sintomas, passos para o diagnóstico e formas de tratamento para mulheres com SOP, incluindo as possibilidades encontradas na reprodução assistida.
O que causa a síndrome dos ovários policísticos?
A SOP é considerada uma condição multifatorial, pois pode envolver fatores genéticos, hormonais, metabólicos e ambientais. Entre as possíveis causas dessa endocrinopatia, estão:
- aumento nos níveis de insulina, que contribui para a maior produção de hormônios andrógenos;
- predisposição genética e hereditariedade, pois vários genes participam do desenvolvimento da SOP;
- desequilíbrio nos níveis das gonadotrofinas, hormônios que estimulam as gônadas — no caso da mulher, os ovários —, o que leva ao excesso de LH (hormônio luteinizante) e à redução da secreção de FSH (hormônio folículo-estimulante) e, por consequência, ao aumento na produção de andrógenos;
- hiperinsulinemia (excesso de insulina circulante).
Entre os fatores de risco para a síndrome dos ovários policísticos, estão: obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada e exposição a toxinas ambientais. Essas condições estão associadas ao aumento de disruptores endócrinos e do peso corporal, favorecendo a hiperinsulinemia, que é fortemente relacionada à SOP.
O sobrepeso e a obesidade são, ao mesmo tempo, fatores causais e consequências da síndrome dos ovários policísticos. Assim como o excesso de peso corporal pode aumentar os níveis de insulina e facilitar o desenvolvimento dessa endocrinopatia, o hiperandrogenismo pode levar ao aumento de peso, principalmente de gordura visceral, ocasionando o aumento de circunferência abdominal.
Muitas mulheres sofrem com os impactos da SOP no mundo todo. A prevalência é de até 20% da população, dependendo do grupo estudado e dos critérios diagnósticos empregados. Então, é importante saber identificar os sintomas para procurar avaliação médica e tratamento e, assim, tratar os vários aspectos relacionados a essa disfunção.
Quais são os sinais e sintomas de SOP?
As apresentações clínicas da SOP variam. Não há sintomas de dor, mas a mulher pode ter desconforto físico, estético e possíveis complicações à saúde.
Os principais indícios estão associados ao excesso de hormônios masculinos e às alterações na ovulação — por consequência, na menstruação —, incluindo:
- oligomenorreia (menstruação com frequência irregular e intervalo entre os períodos menstruais superior a 35 dias);
- ausência de menstruação;
- queda de cabelo (alopecia androgênica);
- seborreia;
- alterações na pele, como aumento de oleosidade e acne;
- crescimento de pelos faciais e corporais, em locais tipicamente masculinos (hirsutismo);
- ganho de peso, principalmente aumento de gordura abdominal;
- dificuldade para engravidar.
A infertilidade e as alterações estéticas prejudicam a qualidade de vida e a autoestima da mulher, mas há também outras consequências sérias. Caso não seja tratada, a síndrome dos ovários policísticos aumenta o risco para diabetes tipo 2, dislipidemia e doença coronária.
Como se realiza o diagnóstico de SOP?
O diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos é feito com avaliação clínica, baseado no histórico menstrual da paciente. Além da amenorreia ou oligomenorreia, as outras manifestações clínicas clássicas de hiperandrogenismo, como hirsutismo e alopecia, são observadas.
A avaliação diagnóstica é complementada por exames de sangue para verificar os níveis hormonais e outros sinais laboratoriais de hiperandrogenismo. A ultrassonografia transvaginal é útil para averiguar a presença dos policistos nos ovários.
A SOP é confirmada quando a paciente apresenta pelo menos dois dos seguintes critérios diagnósticos:
- anovulação ou oligovulação;
- sinais clínicos ou laboratoriais de hiperandrogenismo;
- ultrassonografia confirmando a presença de policistos nos ovários.
Como tratar a síndrome dos ovários policísticos?
O tratamento depende do desejo reprodutivo da paciente. Se não houver intenção de gravidez, são prescritos contraceptivos orais combinados, além de fármacos antiandrogênicos. As mulheres que querem engravidar podem ser indicadas à indução farmacológica da ovulação.
Em todos os casos, recomenda-se a adoção de hábitos mais saudáveis. Mudanças no estilo de vida são importantes para controlar fatores de risco como excesso de peso corporal e resistência insulínica.
Além dos bons hábitos dietéticos e da prática de exercícios físicos, o consumo excessivo de álcool e o tabagismo devem ser evitados para melhores resultados reprodutivos e obstétricos, no caso de mulheres que pretendem gestar. A perda de pelo menos 5% do peso antes da concepção pode ser suficiente para restaurar a regularidade ovulatória ou melhorar a resposta aos fármacos indutores de ovulação.
Conforme as características do casal, a indução da ovulação é aliada ao coito programado, técnica de baixa complexidade da reprodução assistida, que consiste em monitorar o desenvolvimento dos folículos ovarianos e programar as relações sexuais do casal para os dias próximos ao período ovulatório.
Diante da necessidade de induzir a ovulação, também é importante investigar se o casal tem outros fatores de infertilidade. De acordo com os resultados, pode ser preciso redefinir a abordagem. Por exemplo, se além da SOP a paciente tem mais de 35 anos ou se há problemas uterinos, tubários ou masculinos a tratar, a fertilização in vitro (FIV) pode ser uma melhor opção.