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Hidrossalpinge

Por: Dr. Luiz Fernando Henrique

As doenças tubárias estão entre as principais causas de infertilidade feminina, incluindo bloqueio nas tubas, formação de aderências peritubárias e hidrossalpinge. Essa última condição está particularmente associada a um mau prognóstico nas tentativas de gravidez, no entanto muitas mulheres ainda a desconhecem.

A hidrossalpinge é o acúmulo de líquido intratubário, o que leva à dilatação da tuba uterina. Pode ocorrer de modo unilateral ou bilateral. Geralmente, é uma alteração decorrente de processos inflamatórios. Na avaliação por imagem, é possível ver a tuba dilatada, com aspecto morfológico anormal.

As tubas uterinas — antigamente, chamadas de trompas de falópio — são órgãos fundamentais para o processo natural de concepção, pois elas fazem a ligação entre os ovários e a cavidade do útero. São órgãos de aproximadamente 10 cm de comprimento, responsáveis por captar o óvulo e transportá-lo para o local da fecundação. Depois disso, a motilidade tubária conduz o embrião para o interior do útero.

A hidrossalpinge interfere na permeabilidade tubária, causa obstrução e dificulta a movimentação dos espermatozoides e o transporte do óvulo. Além de reduzir as chances de fertilização, as doenças tubárias aumentam o risco de gravidez ectópica.

Você já tinha conhecimento sobre a hidrossalpinge? Veja como identificar e tratar essa alteração tubária!

O que provoca hidrossalpinge?

A causa mais frequente de hidrossalpinge é a doença inflamatória pélvica (DIP), resultante da ascensão de microrganismos infecciosos, principalmente os agentes etiológicos de clamídia e gonorreia. 

A DIP é uma condição caracterizada por inflamações simultâneas nos órgãos femininos: colo do útero, camada interna do útero (endométrio), tubas uterinas e ovários. Nas tubas uterinas, essa infecção lesiona as paredes, provocando perda da função do órgão, aderências com possível obstrução das fímbrias (parte da tuba mais próxima ao ovário e que atrai o óvulo para dentro da tuba) e consequentemente acúmulo de líquido em seu interior. 

Outra possível causa de hidrossalpinge é o acúmulo de tecido cicatricial, decorrente de cirurgia pélvica (sobretudo, tubária) ou de endometriose, doença caracterizada por implantes de endométrio fora do útero, os quais crescem com estímulo hormonal e causam inflamação. As tubas uterinas estão entre os órgãos mais afetados pelas lesões endometrióticas.

Hidrossalpinge tem sintomas?

Não há sintomas específicos. A hidrossalpinge é uma sequela, uma consequência de outras condições, como infecções não tratadas e endometriose. Quando há manifestações clínicas, pode ocorrer corrimento vaginal e dor pélvica que se agrava durante o período menstrual ou logo após.

Uma vez que pode provocar a obstrução das tubas uterinas, a infertilidade também é um sinal de hidrossalpinge. Entre os prejuízos nas funções reprodutivas, estão:

  • efeito negativo na motilidade e sobrevivência dos espermatozoides;
  • fluído hostil ao desenvolvimento inicial do embrião;
  • alteração nos mecanismos de receptividade endometrial.

Portanto, quem tem o diagnóstico de hidrossalpinge apresenta taxas de gravidez mais baixas de gravidez devido a vários fatores químicos e mecânicos.

Como diagnosticar a hidrossalpinge?

A presença de hidrossalpinge é diagnosticada por exames de imagem, incluindo ultrassonografia, ressonância magnética e histerossalpingografia.

A ultrassonografia transvaginal tem sido rotineiramente realizada para avaliar as estruturas pélvicas. Durante a realização desse exame para avaliação de outras condições, inclusive na investigação da infertilidade, hidrossalpinges assintomáticas podem ser detectadas.

A histerossalpingografia tem papel fundamental na avaliação de anormalidades tubárias. Trata-se de um método de radiografia que utiliza contraste iodado hidrossolúvel. Conforme o fluído se espalha pela cavidade do útero e entra nas tubas uterinas, é possível avaliar a permeabilidade tubária, a presença de obstruções, além de distorções anatômicas e alterações no espaço peritubário.

Outra técnica eficiente para o diagnóstico de obstrução tubária é a videolaparoscopia com realização de cromotubagem — método que permite a visualização direta da passagem de contraste injetado pelo colo uterino.

É importante realizar, ainda, análises laboratoriais para verificar a presença de patógenos infecciosos — mesmo que não existam sintomas de infecção e inflamação, visto que algumas doenças que precedem a hidrossalpinge, como a clamídia, podem ser assintomáticas.

De que forma a hidrossalpinge é tratada?

O tratamento da hidrossalpinge envolve tanto o manejo da alteração tubária em si quanto das doenças subjacentes. Por exemplo, se houver infecção associada, é preciso incluir o uso de antibióticos. Da mesma forma, a endometriose precisa de um tratamento específico, com base no mapeamento de todas as lesões.

Tratar essa alteração tubária pode melhorar suas chances de gravidez. O tratamento será definido de forma individualizada, considerando sua idade e a gravidade da hidrossalpinge.

As aderências de endometriose, os pontos de obstrução tubária e o acúmulo de fluídos no interior da tuba demandam tratamento cirúrgico. A abordagem comumente realizada é a videolaparoscopia, procedimento minimamente invasivo.

Na abordagem laparoscópica, pode-se realizar a salpingostomia, que remove as partes danificadas e visa a reparar o bloqueio nas tubas, além de reabrir as fímbrias que foram seladas. É um tratamento com baixas taxas de sucesso. 

Em outras situações, pode ser necessária a realização de salpingectomia por laparoscopia para remover a tuba uterina, parcial ou completamente.

Na reprodução assistida, as mulheres com infertilidade por fator tubário podem recuperar suas chances de gravidez com a fertilização in vitro (FIV). Essa é uma técnica de alta complexidade, na qual as etapas iniciais do processo de concepção são controladas em laboratório. 

Na FIV, diferentemente da reprodução natural, o óvulo não é fecundado na tuba e não precisa ser transportado por esse órgão. Após cerca de 5 dias de pré-desenvolvimento em incubadora, os embriões são colocados diretamente no interior do útero, de modo que a função tubária não é fundamental nesse processo.

A hidrossalpinge também está associada a taxas reduzidas de gravidez nos tratamentos com fertilização in vitro, visto que o vazamento do fluído tubário para dentro do útero pode exercer efeitos prejudiciais no processo reprodutivo, dificultando a implantação do embrião no útero e sua permanência. Sendo assim, a salpingectomia é uma conduta importante antes da FIV nessas situações.

 

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