A doação de embriões e a adoção de crianças nascidas são duas opções de maternidade/paternidade em que os filhos não têm a herança genética dos pais, mas ambas são possibilidades para quem deseja construir uma família. Na primeira situação, o casal também passa pela experiência da gestação, quando o vínculo afetivo começa a ser formado.
O embrião é o resultado da união entre um espermatozoide (gameta masculino) e um óvulo (gameta feminino). Em poucos dias, o embrião passa de uma célula única (o zigoto) a um organismo pluricelular, capaz de se implantar no endométrio uterino e evoluir até se tornar feto com todos os seus órgãos e tecidos.
Na fertilização in vitro (FIV), todas as etapas do processo conceptivo que antecedem a implantação embrionária no útero são acompanhadas em laboratório.
Os casais que embarcam em um tratamento com FIV esperam que vários embriões sejam gerados, visto que nem sempre há uma gravidez bem-sucedida na primeira tentativa. Além disso, os embriões remanescentes também oferecem a chance de ter mais filhos, no futuro. É um cenário que pode trazer conforto psicológico ao casal que enfrentou anos de expectativas, frustrações e possíveis perdas.
No entanto, existe uma decisão a ser tomada por quem tem seus embriões congelados. As opções são:
- descartar os embriões restantes;
- aumentar a família com uma nova gravidez;
- doar para pesquisas científicas — essa alternativa está assegurada pela lei da biossegurança, desde que os embriões sejam considerados inviáveis ou estejam congelados há mais de 3 anos;
- doar para outra pessoa ou casal infértil que queira formar uma família.
Este texto reúne importantes informações que você precisa ter sobre doação de embriões, incluindo: indicações, como o procedimento é feito e quais são as normas éticas relacionadas.
Para quem a doação de embriões é indicada?
O tratamento de reprodução com doação de gametas e embriões é indicado para pessoas que não podem ter filhos utilizando suas próprias células reprodutivas. É mais comum que os casais optem pela doação de óvulos e sêmen, pois assim a criança terá herança genética de um dos progenitores. Entretanto, a doação de embriões também é uma opção diante das seguintes condições:
- mulheres que não têm óvulos, principalmente em decorrência da idade, ou não os têm em qualidade suficiente para gerar embriões saudáveis;
- infertilidade feminina, por idade ou outro fator, somada à infertilidade masculina grave, sem possibilidade de obter os espermatozoides com técnicas de recuperação espermática;
- alto risco de o casal ter descendentes com doenças genéticas, não sendo possível evitar tais anormalidades com o teste genético pré-implantacional (PGT);
- tentativas anteriores de gravidez por FIV malsucedidas, utilizando os gametas do próprio casal;
- mulheres com reserva ovariana diminuída, que ainda querem ser mães, não têm parceiro e decidem embarcar nessa jornada sozinhas após determinada idade.
Como a doação de embriões é realizada?
O tratamento de FIV com doação de embriões é mais simples que a FIV tradicional. O casal receptor chega a essa alternativa após realizar exames e constatar que não pode ter filhos genéticos. Por sua vez, o casal doador é aquele que já esteve em processo de fertilização in vitro e congelou seus embriões excedentes.
Na FIV em seu processo completo, são realizadas seis etapas principais:
- estimulação ovariana;
- coleta dos óvulos;
- coleta do sêmen e preparo seminal;
- fertilização dos óvulos;
- cultivo embrionário;
- transferência dos embriões para o útero.
Quem opta pela doação de embriões encurta esse caminho, indo diretamente para a última etapa: a transferência embrionária. Antes disso, é preciso realizar exames para avaliação do útero. Ultrassonografia, histerossonografia, ressonância magnética e histeroscopia são técnicas diagnósticas que podem ser indicadas para avaliar se a cavidade uterina está em boas condições para uma gravidez.
Para receber os embriões, a mulher passa por preparo endometrial com hormônios exógenos: primeiramente, estrogênio para aumentar a espessura do endométrio; depois, progesterona para melhorar a receptividade do tecido intrauterino.
Por fim, realiza-se a transferência de um ou mais embriões para o útero. O procedimento é simples e rápido, não requer anestesia e é realizado em ambulatório. Eles são transferidos para a cavidade uterina pelo orifício do colo do útero. Uma ultrassonografia pélvica suprapúbica pode ser realizada para guiar o posicionamento do cateter, permitindo que os embriões sejam colocados próximo ao local da implantação.
O que dizem as normas éticas em relação à doação de embriões?
O Conselho Federal de Medicina (CFM) orienta os serviços de reprodução assistida por meio de um conjunto de normas éticas, hoje representadas na resolução 2.320/2022. Em relação à doação de embriões, vale mencionar as seguintes regras:
- a doação não pode envolver lucros e comercialização;
- doadores e receptores não devem conhecer a identidade uns dos outros;
- antes de gerar os embriões, os pacientes devem deixar documentada sua vontade quanto ao destino dos embriões criopreservados, inclusive se eles autorizam a doação.
A doação de embriões para ajudar na construção familiar é uma opção terapêutica estabelecida e bem-sucedida, além de ser mais simples e menos dispendiosa que a FIV com estimulação ovariana ou doação de óvulos. Contudo, essa decisão cabe aos pacientes, após devida avaliação e orientação do médico especialista.