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Abortamento de repetição

Por: Dr. Luiz Henrique Fernando

Aborto é o termo que se dá para aquela gestação que inicia bem, mas é interrompida antes de completar 20 semanas. Infelizmente, o aborto é um diagnóstico muito frequente. Estima-se que de 20% a 25% das mulheres passarão por pelo menos 1 episódio ao longo da sua vida reprodutiva. Quando ocorrem três ou mais perdas consecutivas, há o diagnóstico de aborto de repetição.

A perda gestacional recorrente (ou aborto de repetição) é classicamente definida por três ou mais episódios de aborto, antes de 20 semanas de gravidez. No entanto, ainda há controvérsias em relação às diretrizes para definição e tratamento dessa condição. Sendo assim, no acompanhamento de casais que estão tentando engravidar, é importante fazer uma investigação detalhada do problema a partir da segunda perda.

O abortamento de repetição envolve frustração, pois paralisa de forma inesperada e dolorosa os sonhos do casal que quer formar uma família. Se você já passou por isso, saiba que o acompanhamento médico especializado é de extrema importância antes de novas tentativas, a fim de evitar outras perdas e aumentar as chances de um desfecho positivo.

Quais são as causas do abortamento de repetição?

O desenvolvimento embrionário inicial pode ser impactado por diversos fatores, relacionados ao ambiente uterino, à qualidade do próprio embrião ou outros.

Até hoje, a causa do aborto não é identificada na maioria dos casos, sendo definido como idiopático. Entre as possíveis causas do abortamento de repetição, estão:

Alterações genéticas

As causas genéticas da perda gestacional recorrente incluem alterações cromossômicas, como aneuploidias (anormalidades no número de cromossomos) e translocações (anomalias estruturais), além de algumas doenças gênicas específicas. Os riscos de abortamento por alterações genéticas podem ser maiores em mulheres com idade avançada.

As aneuploidias representam a causa mais frequente de abortamento precoce esporádico. Estudos mostraram que 80% ou mais dessas situações estão associadas a anormalidades cromossômicas no embrião.

Anormalidades anatômicas uterinas

Alterações na anatomia do útero podem estar associadas ao abortamento, sendo as principais: 

  • malformações müllerianas, com mais frequência o útero septado;
  • sinequias uterinas e síndrome de Asherman;
  • mioma submucoso;
  • incompetência istmocervical;
  • pólipos endometriais;
  • adenomiose.

Defeito da fase lútea

A fase lútea é a fase do ciclo menstrual que acontece logo após a ovulação. Nesse momento do ciclo, os ovários produzem altas doses de progesterona para manter o tecido interno do útero (endométrio) receptivo para o embrião. 

Quando há secreção insuficiente de progesterona, define-se a deficiência da fase lútea, que acarreta baixa receptividade endometrial e, por consequência, falhas de implantação embrionária ou abortamento precoce.

Outros problemas hormonais

O equilíbrio dos hormônios é fundamental para o bom funcionamento do sistema reprodutor. Além da produção deficiente de progesterona na fase lútea, outras condições clínicas desencadeiam alterações hormonais e aumentam o risco para abortamento de repetição, tais como:

  • síndrome dos ovários policísticos (SOP);
  • resistência à insulina;
  • hiperprolactinemia;
  • hipotireoidismo.

Fatores imunológicos

O abortamento de repetição pode ser causado por fatores autoimunes e aloimunes. A principal condição autoimune envolvida é a síndrome de anticorpos antifosfolípides (SAF), que resulta em um mecanismo de hipercoagulabilidade, levando à formação de trombos na placenta que interferem no transporte de oxigênio e nutrientes para o feto. 

As trombofilias hereditárias têm mecanismo semelhante ao da SAF. A presença de coágulos nos vasos placentários pode ser uma causa importante de prejuízos ao desenvolvimento embrionário/fetal e abortamento de repetição.

Causas masculinas

A fragmentação do DNA espermático tem sido implicada na etiologia do abortamento de repetição. Tais danos ao DNA dos espermatozoides resultam em embriões de baixa qualidade. As causas mais frequentes dessa alteração masculina são varicocele, exposição ambiental e anormalidades genéticas.

Como investigar e tratar os problemas associados ao abortamento de repetição?

O percurso diagnóstico do abortamento recorrente começa com a avaliação clínica do casal e prossegue com uma série de exames complementares. Conforme a suspeita médica, o especialista pode solicitar:

  • dosagens hormonais;
  • sorologias;
  • pesquisa de trombofilias;
  • exame do cariótipo;
  • ultrassonografia transvaginal;
  • histerossalpingografia;
  • histeroscopia;
  • biópsia endometrial;
  • teste de fragmentação do DNA espermático.

Se os exames revelarem a causa específica do abortamento de repetição, é preciso fazer o tratamento da doença subjacente com medicação ou cirurgia, dependendo do problema.

É importante também que você modifique alguns fatores do estilo de vida. Manter o peso corporal saudável, parar de fumar e limitar o consumo de álcool e cafeína são condutas aconselhadas. Esses hábitos não representam causas isoladas de aborto, mas aumentam o risco.

Além do tratamento das condições associadas, a fertilização in vitro (FIV) é um tratamento que pode diminuir risco de novos abortos e antecipar a chegada do tão desejado filho. Na fertilização in vitro, é possível realizar um teste genético chamado PGT-A. 

Com esse exame (realizado no embrião antes de ser colocado dentro do útero), é possível rastrear anormalidades gênicas e cromossômicas nos embriões. Como as alterações genéticas estão entre as principais causas de abortamento de repetição, essa é uma opção que pode ser abordada na consulta com o médico, antes de embarcar em uma nova tentativa de gravidez.

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