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Blastocisto na FIV

Por: Dr. Luiz Henrique Fernando

As transferências de embriões em estágio de blastocisto na FIV (fertilização in vitro) têm sido cada vez mais realizadas no mundo todo. Essa tendência se deve a vantagens como melhor taxa de implantação e redução no número de gestação gemelar, pois viabiliza a transferência de um único embrião com bom desenvolvimento e potencial de nidação.

Em fase de blastocisto, a transferência é considerada mais fisiológica, pois o embrião chega ao local de implantação no mesmo tempo em que isso ocorre na reprodução natural. Assim, há uma melhor sincronização entre as células embrionárias e o as células do endométrio (camada interna do útero, local onde o embrião deve se implantar).

Outro ponto importante da transferência de blastocisto na FIV é que, nesse estágio de desenvolvimento, o embrião apresenta um número maior de células, o que é considerado mais seguro para a realização de biópsia e triagem cromossômica. Isso é feito quando há indicação para o teste genético pré-implantacional (PGT), que faz o rastreio de alterações genéticas, como doenças monogênicas e aneuploidias (número anormal de cromossomos).

Este texto explica o que é blastocisto, como o embrião se desenvolve na FIV e quais são os protocolos de transferência embrionária.

O que significa estágio de blastocisto?

Blastocisto é o estágio celular alcançado pelo embrião, aproximadamente 5 a 7 dias após a fertilização do óvulo. Nessa fase, o embrião está fisiologicamente pronto para se implantar no endométrio uterino para marcar o início de uma gravidez.

A fecundação acontece quando espermatozoide e óvulo se unem, dando origem à primeira célula do novo organismo, chamada zigoto. Em seguida, essa célula entra em fase de clivagem, na qual ocorrem sucessivas divisões celulares.

Na primeira divisão, formam-se duas células-filhas chamadas blastômeros. A cada 24 horas, as células se dividem novamente, chegando a um conjunto celular numeroso ao se tornar blastocisto (entre 100 e 150 células aproximadamente).

No processo natural de reprodução humana, o óvulo é fertilizado em uma das tubas uterinas. Durante a fase de clivagem, o embrião é transportado pela tuba, chegando à cavidade do útero em estágio de mórula, com cerca de 16 blastômeros.

A mórula permanece até 2 dias na cavidade uterina, recebendo fluídos do próprio útero. Em torno do 6º dia após ser fecundado, o óvulo se torna blastocisto, sendo constituído por 3 partes:

  • embrioblasto — massa celular interna, que formará o embrião;
  • trofoblasto — células que dão origem às estruturas extraembrionárias, como a placenta;
  • blastocele — cavidade que separa os dois conjuntos celulares.

Depois que o blastocisto se forma, ocorre a eclosão ou ruptura da membrana protetora (a zona pelúcida), e ele inicia o processo de implantação. Para que esse fenômeno se complete, é necessário que aconteça a sincronização fisiológica, que envolve o reconhecimento entre as células embrionárias e endometriais.

Como o blastocisto se desenvolve na fertilização in vitro?

A FIV é uma técnica de alta complexidade, que passa por uma sequência controlada de procedimentos laboratoriais para possibilitar a formação de embriões em ambiente extrauterino. De forma bem resumida, é feita com o seguinte passo a passo:

  • estimulação ovariana com medicações hormonais para aumentar o número de óvulos em um mesmo ciclo — nos ciclos ovulatórios naturais, a mulher geralmente libera somente um óvulo de cada vez;
  • aspiração do líquido folicular dos ovários, onde são encontrados e coletados os óvulos;
  • coleta do sêmen e processamento com técnicas de preparo seminal;
  • fertilização dos óvulos com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI);
  • cultivo dos embriões em incubadora;
  • transferência dos embriões para o útero.

Na etapa de cultivo, o desenvolvimento embrionário acontece da mesma forma que na reprodução natural. Como foi descrito acima, forma-se o zigoto, depois ocorre a fase de clivagem e, com 5 a 7 dias, o óvulo fertilizado se torna blastocisto.

A diferença é que todo o processo de desenvolvimento é monitorado para a formação de blastocisto na FIV. Os embriões são avaliados diariamente, de modo que é possível constatar quais deles param de se desenvolver e quais têm condições de evoluir até o estágio de implantação.

Quais são os protocolos de transferência embrionária na FIV?

Nas primeiras décadas de FIV, os embriões eram transferidos em fase de clivagem, com 2 ou 3 dias de desenvolvimento. Esse protocolo de transferência em D2 ou D3 praticamente não é mais realizado; a preferência já há mais de uma década é para a transferência em estágio de blastocisto.

O período de cultivo estendido até o estágio de blastocisto na FIV permite selecionar melhor os embriões, com base em sua capacidade de desenvolvimento e potencial de implantação. Isso é especialmente relevante nos programas de transferência de embriões únicos. Atualmente, optamos por transferir um embrião por vez, sempre que possível, a fim de evitar gestações múltiplas.

Priorizamos o protocolo de transferência de blastocistos, com 5, 6 ou até 7 dias de desenvolvimento. Os embriões com essa idade podem ser transferidos a fresco (no mesmo ciclo em que foram gerados) ou congelados para serem transferidos no ciclo posterior.

Frequentemente, congelamos todos os embriões (freeze-all) e esperamos até o mês seguinte para fazer a transferência de blastocisto. Isso porque os níveis hormonais podem estar elevados no ciclo em que se realizou a estimulação ovariana, prejudicando a receptividade do endométrio. Com o freeze-all, há tempo de normalizar os hormônios e controlar melhor o preparo endometrial.

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