A infertilidade masculina pode ser causada por fatores diversos, tais como distúrbios endócrinos, defeitos anatômicos, condições genéticas, anormalidades imunológicas, infecções genitais, disfunções sexuais e ejaculatórias.
As consequências dessas condições podem incluir prejuízos na produção, na qualidade e no transporte dos espermatozoides pelo trato genital. O homem também pode ter problemas reprodutivos devido a alterações na função dos espermatozoides, como nos casos de alto índice de fragmentação do DNA espermático.
O espermograma ou análise seminal ainda é considerado o exame mais relevante para avaliação da fertilidade masculina. No entanto, homens normozoospérmicos (com resultados normais em relação aos parâmetros da análise seminal) podem ter alteração na qualidade do DNA que está sendo transportado pelos espermatozoides.
O teste de fragmentação do DNA espermático pode revelar alta taxa de danos à cromatina dos espermatozoides, fator não identificado no espermograma. Ao identificar essa condição, é possível repensar as possibilidades de tratamento para aumentar as chances de concepção do casal infértil.
O que é fragmentação do DNA espermático?
A elevada fragmentação do DNA espermático é uma condição caracterizada pela perda de integridade da cadeia de DNA dos espermatozoides, o que causa alteração funcional dos gametas masculinos e pode resultar na formação de embriões de baixa qualidade.
A integridade do DNA espermático é fundamental para gerar descendentes saudáveis. A elevada fragmentação é um marcador da cromatina danificada. Encontrar um número discreto de espermatozoides com DNA fragmentado é normal, mas índices elevados dessa alteração estão associados a dificuldades reprodutivas.
A fragmentação do DNA espermático é principalmente causada por defeitos na espermiogênese e estresse oxidativo. Entre os fatores relacionados, estão:
- varicocele;
- idade avançada (acima dos 50);
- tabagismo;
- uso de drogas gonadotóxicas, como as que são administradas na quimioterapia;
- obesidade;
- infecções;
- poluentes ambientais;
- temperatura testicular elevada, decorrente de exposição frequente ao calor (risco ocupacional);
- doenças crônicas, como diabetes;
- entre outros.
Com exceção do avanço da idade, a maioria dos fatores listados pode ser parcial ou totalmente melhorada com mudanças no estilo de vida e uso de antioxidantes.
Essa alteração nos espermatozoides tem sido relacionada a um baixo potencial para conquistar uma gravidez natural e tempo prolongado de infertilidade. Estão implicadas falhas no desenvolvimento embrionário e no processo de implantação do embrião no útero, bem como aumento de risco de abortamento espontâneo.
Tratamentos de reprodução assistida também podem ter suas taxas de sucesso reduzidas quando há elevada fragmentação do DNA espermático.
Quais são as indicações para o teste de fragmentação do DNA espermático?
O espermograma, embora seja uma ferramenta indispensável para avaliar os parâmetros seminais, não revela o estado funcional dos espermatozoides. Em determinadas situações, a avaliação com testes de fragmentação do DNA espermático é indicada para elucidar melhor as causas da infertilidade.
Em resumo, na investigação básica de casal com infertilidade conjugal, as indicações para o teste de fragmentação do DNA espermático podem incluir:
- casal com abortamento de repetição idiopático;
- falhas repetidas de implantação embrionária em ciclos de fertilização in vitro (FIV);
- gestação anterior com alteração cromossômica;
- homens com mais de 45 anos;
- casal com infertilidade sem causa aparente (ISCA);
- entre outras indicações.
Como o teste de fragmentação do DNA espermático é realizado?
Esse tipo de avaliação masculina tem sido realizado para conhecer de forma mais detalhada a qualidade dos espermatozoides, tendo em vista a importância da integridade do DNA espermático para o desenvolvimento embrionário saudável e bons resultados reprodutivos.
Dentre os testes existentes para mensuração da fragmentação do DNA espermático, destacam-se:
- SCSA (Sperm Chromatin Structure Assay);
- TUNEL (Terminal dUTP Nick End Labelling);
- SCD (Sperm Chromatin Dispersion);
- ensaio Cometa.
O SCSA, teste de estrutura da cromatina espermática, é um método de análise por citometria de fluxo — tecnologia aplicada para medir e analisar simultaneamente as características de células ou partículas microscópicas em uma suspensão líquida em fluxo contínuo. Com o SCSA, é feita a contagem dos espermatozoides com DNA fragmentado, que emitem fluorescência em vermelho, e dos gametas com DNA íntegro, corados em verde.
A técnica TUNEL detecta danos endógenos no DNA e é, atualmente, o teste mais utilizado para mensurar a fragmentação do DNA espermático. Baseia-se na incorporação de nucleotídeos marcados com corante fluorescente na região de quebra de DNA. A porcentagem de espermatozoides com coloração verde intensa na cabeça é o parâmetro mensurado de gametas fragmentados.
O SCD, teste de dispersão da cromatina espermática, é um método que avalia a sensibilidade do DNA espermático à desnaturação ácida. Os espermatozoides são expostos ao ácido, e as quebras de DNA evitam a dispersão da cromatina, revelando quais são os gametas fragmentados.
O teste SCD tem a vantagem de não necessitar de equipamento avançado, mas tem a desvantagem de analisar apenas 300 a 500 espermatozoides por vez, enquanto os testes SCSA e TUNEL avaliam milhares ao mesmo tempo.
O ensaio Cometa é assim denominado porque o material analisado ao microscópio adquire a forma de um cometa. O núcleo corresponde aos espermatozoides com DNA íntegro e a cauda do cometa é formada pelos gametas com DNA fragmentado. Quanto maior a cauda, maior o índice de fragmentação.
Esse teste pode ter grande relevância na avaliação do casal infértil e ajudar no direcionamento do tratamento a ser oferecido.