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Infertilidade sem causa aparente (ISCA)

Por: Dr. Luiz Henrique Fernando

Durante a investigação da infertilidade de um indivíduo ou casal, frequentemente encontramos uma causa (ou uma potencial causa). Entretanto, um percentual dessas pessoas avaliadas recebe o diagnóstico de infertilidade sem causa aparente (ISCA).

Décadas atrás, o número de casais com ISCA era muito maior. Com o avanço dos recursos diagnósticos, várias doenças que afetam a fertilidade feminina e masculina passaram a ser diagnosticadas desde seus estágios iniciais. Hoje, apenas cerca de 10% a 20% dos casos não têm causa esclarecida.

Este texto mostra o que é infertilidade sem causa aparente, quais exames são feitos e as possibilidades de tratamento.

Qual é o percurso diagnóstico para chegar à ISCA?

Primeiramente, é importante frisar que a infertilidade sem causa aparente não é um diagnóstico, mas a ausência dele. O casal passa por todo o percurso da avaliação da fertilidade conjugal, realizando uma série de exames para identificar os fatores que dificultam a concepção.

O primeiro passo para o casal infértil é buscar a avaliação clínica com um médico especialista em reprodução assistida. Na consulta inicial, são feitas várias perguntas sobre histórico reprodutivo, padrão menstrual, condições médicas atuais, tratamentos anteriores, estilo de vida, regularidade das relações sexuais etc.

Diversos exames são solicitados, os quais podem incluir:

  • para a mulher — ultrassonografia pélvica, ressonância magnética, histerossalpingografia, histeroscopia e dosagem de hormônio antimülleriano;
  • para o homem — espermograma; ultrassom da bolsa escrotal, teste de fragmentação do DNA espermático;
  • para ambos — dosagens hormonais, exame do cariótipo e sorologias.

Se após a investigação inicial de rotina nenhuma alteração for encontrada, o percurso diagnóstico pode prosseguir com a pesquisa de mais fatores endocrinológicos, imunológicos, fisiológicos e outros.

O fato de identificar as causas é importante para nortear e individualizar o tratamento, contornando condições específicas da infertilidade. Por isso, a ISCA pode representar um desafio: como não há um diagnóstico concludente, também não há problemas pontuais a tratar.

O que pode estar por trás da infertilidade sem causa aparente?

A ISCA pode encobrir uma condição subdiagnosticada. Mesmo com as técnicas diagnósticas de boa acurácia que temos hoje, alguns casos de doenças que estão começando a se desenvolver podem passar despercebidos.

Um fator importante é a idade. Embora as pessoas tenham vida ativa por mais tempo na sociedade contemporânea, o envelhecimento biológico acontece, inevitavelmente.

Para a mulher, as limitações reprodutivas chegam mais cedo, entre os 35 e 40 anos. Geralmente, nessa fase, o número de óvulos reduziu o suficiente para dificultar a função ovulatória regular. Mesmo que a ovulação ainda seja frequente, os gametas que restam podem não ter boa qualidade.

Óvulos de baixa qualidade formam embriões frágeis, os quais têm menor chance de implantação no útero ou, uma vez implantados, menor chance de evoluir até o termo. Portanto, quanto mais avançada a idade da mulher, maior o risco de aborto no primeiro trimestre.

Para o homem, há chances de ter filhos aos 45, 50 ou até mais. No entanto, a qualidade dos espermatozoides também parece reduzir com o avanço da idade, acarretando falhas de fertilização ou baixa qualidade embrionária.

Outros fatores que podem estar relacionados à infertilidade sem causa aparente são:

  • endometriose em estágio inicial;
  • fatores masculinos leves;
  • disfunção nas tubas uterinas por pequenas anormalidades;
  • doenças autoimunes.

Quais são as opções de tratamento para o casal com ISCA?

A infertilidade sem causa aparente dificulta o planejamento terapêutico e o prognóstico reprodutivo do casal, o que pode ser motivo de preocupação e insegurança. Como não há um diagnóstico claro de doença a ser tratada, terapias convencionais (farmacológicas ou cirúrgicas) não são indicadas nesses casos, mas há possibilidades com as técnicas de reprodução assistida.

Os tratamentos são divididos em baixa e alta complexidade na reprodução assistida. Os de baixa complexidade são a relação sexual programada (também conhecida como “coito programado”) e a inseminação intrauterina (inseminação artificial). A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de alta complexidade.

Após diálogo entre médico e casal, é definido qual tipo de tratamento será realizado. Pode-se iniciar pelos de menor complexidade por 1 a 6 meses e, se a gravidez não acontecer, prosseguimos com a fertilização in vitro.

Durante a definição do caminho a ser trilhado, o médico deverá ponderar sobre vantagens e desvantagens de iniciar com tratamentos de menor complexidade — também com menor chance de sucesso por ciclo —, principalmente quando a mulher tem mais de 35 anos.

O lado positivo da ISCA é que é preferível ter esse diagnóstico a encontrar uma condição (ou doença) de difícil tratamento. A chance de sucesso pode ser superior em relação a outras condições com diagnóstico claro. O lado negativo é a angústia do casal ou do indivíduo por não entender o motivo pelo qual uma gestação natural não acontece.

Seja por infertilidade sem causa aparente, seja por outro diagnóstico de problema reprodutivo, é sempre importante individualizar o tratamento para que o casal se sinta tranquilo com o caminho definido.

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