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Transferência de embriões congelados

Por: Dr. Luiz Henrique Fernando

No ano de 1978, nasceu o primeiro ser humano por gravidez obtida com fertilização in vitro (FIV), com transferência de embrião a fresco — o termo “a fresco” indica que o embrião foi gerado no mesmo ciclo em que foi transferido para o útero materno. Passados 5 anos, houve o registro do primeiro nascimento a partir da transferência de embrião congelado.

Nas últimas 4 décadas, foram mais de 7 milhões de nascimentos possibilitados pela FIV no mundo todo, tanto com transferência de embriões a fresco quanto congelados. Essa técnica de reprodução assistida ajuda a superar a infertilidade diante de diversas condições femininas e masculinas.

Entre os fatores mais importantes para o sucesso dos tratamentos com FIV estão: o número de óvulos coletados e de embriões gerados, a qualidade embrionária e a receptividade do endométrio, tecido intrauterino onde o embrião deve se implantar.

As taxas de gravidez com transferência de embriões congelados e a fresco são semelhantes, mas há situações específicas em que a melhor conduta é congelá-los para uso futuro — por exemplo, para a paciente ter tempo de melhorar sua receptividade endometrial, conforme falaremos a seguir.

Indicações para transferência de embriões congelados

No início das aplicações da FIV, o padrão era transferir os embriões a fresco, pois, naquela época, a técnica de congelamento lento não produzia resultados muito satisfatórios. Na última década, a transferência de embriões congelados passou a ser feita frequentemente em clínicas de reprodução assistida, mas não é o único caminho. Em situações, particulares, ainda podemos transferir a fresco.

Há dois fatos que tornaram a transferência de embriões congelados mais frequente: a confirmação de que as medicações hormonais utilizadas para estimulação ovariana, no início do tratamento, podem alterar a receptividade endometrial; o avanço nas técnicas de criopreservação — hoje, a vitrificação ou congelamento ultrarrápido entrega uma taxa muito superior de sobrevida dos embriões em relação à técnica de congelamento lento que era utilizada há algumas décadas.

Em resumo, as indicações para o congelamento de embriões e, posteriormente, para a transferência de embriões congelados incluem:

  • embriões excedentes;
  • preservação da fertilidade;
  • indicação para biópsia embrionária;
  • risco de síndrome do hiperestímulo ovariano (SHO).

Embriões excedentes são comuns em um ciclo de FIV, pois há um limite de embriões a serem transferidos, conforme a idade da paciente, para evitar gestação gemelar. Atualmente, tentamos transferir um único embrião por vez, enquanto os demais são congelados e podem ser usados em tentativas futuras.

A preservação da fertilidade, por motivos médicos ou eletivos, é feita principalmente com a criopreservação de gametas, mas o congelamento de embriões também é uma possibilidade. Assim, quando o casal estiver pronto para prosseguir com os planos reprodutivos, realiza-se a transferência do(s) embrião(ões) congelado(s).

Pode ser preciso congelar todos os embriões (método chamado freeze-all) quando o casal tem indicação para biópsia embrionária. Consiste em coletar células dos embriões para o teste genético pré-implantacional (PGT), que faz o rastreio de anormalidades gênicas ou cromossômicas antes da transferência para o útero.

Por fim, realizamos o freeze-all quando a paciente tem risco de SHO. Trata-se de uma síndrome desencadeada pela resposta exacerbada dos ovários às medicações administradas na etapa de estimulação ovariana. Quando isso acontece, a paciente desenvolve muitos óvulos e os níveis hormônios sobem em desequilíbrio, prejudicando a receptividade endometrial.

Procedimentos envolvidos na transferência de embriões congelados

A transferência de embriões congelados é feita após todas as etapas da FIV:

  • o tratamento começa com a estimulação ovariana para aumentar o número de óvulos maduros em um ciclo;
  • os óvulos são coletados após procedimento de aspiração do líquido folicular ovariano;
  • o sêmen é coletado e processado com técnicas de capacitação espermática para selecionar os espermatozoides móveis;
  • realiza-se a fertilização dos óvulos com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI);
  • os embriões são mantidos em incubadora por 5 a 7 dias, até atingirem o estágio de blastocisto;
  • os embriões são congelados por vitrificação;
  • no ciclo seguinte, ou quando o casal decidir dar sequência ao tratamento de reprodução, é feita a transferência do embrião congelado.

O endométrio pode ser preparado com hormônios exógenos (estradiol e progesterona) ou de forma natural utilizando-se os próprios hormônios produzidos pelos ovários. No dia programado, o embrião é descongelado em um processo inverso ao da vitrificação e transferido para o útero materno.

Todas as possibilidades e dúvidas quanto aos protocolos de transferência embrionária na FIV devem ser claramente abordados em diálogo do casal tentante com o médico especialista.

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