A infertilidade é uma condição que afeta entre 15% e 20% dos adultos em todo o mundo. Trata-se da dificuldade de conceber um filho após 1 ano ou mais de tentativas — período esse em que o casal não utiliza nenhuma forma de anticoncepção e tem relações sexuais regularmente (ao menos 2 vezes por semana). Se a mulher tem 35 anos ou mais, considera-se infertilidade quando esse período ultrapassa 6 meses de tentativas.
São vários os fatores que estão associados à infertilidade. Esses fatores podem estar presentes na mulher (entre 35% e 40%), no homem (cerca de 30%), em ambos ao mesmo tempo (10%). Além disso, mesmo após uma extensa investigação, em até 20% dos casais não se encontra uma causa para o diagnóstico de infertilidade. Chamamos essa situação de infertilidade sem causa aparente (ISCA).
Ao longo do texto, conheça as principais causas de infertilidade e as alternativas de tratamento!
Quais são as causas de infertilidade feminina?
Para começar, veja os motivos que mais levam as mulheres à busca por ajuda médica para engravidar:
Idade
O avanço da idade é uma causa importante de infertilidade feminina na sociedade atual, visto que ser mãe é um plano que tem sido cada vez mais adiado. As chances de gravidez natural diminuem para a mulher após os 35 anos, devido à redução na qualidade dos óvulos.
Distúrbios de ovulação
Grande parte das mulheres que não conseguem engravidar naturalmente tem algum tipo de disfunção ovulatória. Sem ovulação, não há fecundação, portanto, não há gravidez. Entre as causas associadas, estão: síndrome dos ovários policísticos (SOP), hipotiroidismo, obesidade, atividade física excessiva, estresse, distúrbios hipofisários, menopausa, entre outros.
Muitas condições associadas à anovulação (ausência de ovulação) podem ser contornadas com tratamentos específicos, que podem ser simples ou mais complexos. O diagnóstico mais frequente dentro desse contexto é a síndrome dos ovários policísticos, que acomete quase 20% das mulheres em idade reprodutiva.
A SOP pode estar associada a alterações menstruais, manifestações androgênicas (aumento de pelos, oleosidade da pele, queda de cabelo etc.) e infertilidade.
Uma condição importante de mencionar é a falência ovariana prematura, também conhecida como “menopausa precoce”. Esse diagnóstico é dado quando uma mulher para definitivamente de ovular antes de completar 40 anos. As causas são genéticas (hereditárias ou não), iatrogênicas (decorrentes de intervenções médicas, como tratamento quimioterápico ou cirurgia ovariana) e idiopáticas (de origem desconhecida).
Endometriose
A endometriose é uma doença com apresentações variadas e que pode provocar um forte impacto na qualidade de vida da mulher. Consiste no crescimento de tecido endometrial (que deveria estar apenas na parte interna do útero) em um local que não é seu de origem. A região mais frequentemente acometida pelas lesões endometrióticas é a pelve.
Cerca de 50% das mulheres com diagnóstico de endometriose encontram dificuldade para engravidar e necessitarão de tratamento médico especializado.
Doenças uterinas
Há várias doenças que afetam a estrutura do útero, dificultando a implantação do embrião ou a evolução da gravidez. Entre as condições uterinas adquiridas, estão miomas, pólipos, sinequias e adenomiose. Há também alterações congênitas (presentes desde o nascimento) como as malformações müllerianas.
Doenças tubárias
A hidrossalpinge (acúmulo de líquido dentro da tuba uterina), decorrente de salpingite (inflamação na tuba), é uma condição que afeta a permeabilidade tubária e, por consequência, prejudica a movimentação dos espermatozoides e o transporte do óvulo/embrião para o útero.
As principais causas das alterações tubárias são endometriose e infecções genitais, sobretudo a causada por uma bactéria chamada clamídia.
Doença inflamatória pélvica (DIP ou MIPA)
A DIP é causada, principalmente, por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonorreia, e pode apresentar um conjunto de inflamações simultâneas nos órgãos reprodutores femininos: cervicite (no colo do útero), endometrite (no endométrio), salpingite (nas tubas uterinas) e, em alguns casos, ooforite (nos ovários) e peritonite (no peritônio).
Há forte associação entre DIP, infertilidade por obstrução tubária e gravidez ectópica. A endometrite é outro fator que potencialmente pode causar infertilidade, devido à redução da receptividade endometrial e do prejuízo no processo de implantação embrionária.
Alterações cromossômicas
Alterações no número ou na estrutura dos cromossomos também podem causar infertilidade e abortamentos espontâneos.
As aneuploidias, anormalidades cromossômicas numéricas, são caracterizadas por perda ou acréscimo de um ou mais cromossomos. Já as anomalias estruturais correspondem à perda ou ganho de material genético devido à ocorrência de deleção, duplicação, inversão ou translocação.
Mulheres com diagnóstico de síndromes cromossômicas, como a síndrome de Turner e a pré-mutação do cromossomo X frágil, também têm risco aumentado de infertilidade por falência ovariana prematura.
Quais são as causas de infertilidade masculina?
A fertilidade do homem também merece atenção na avaliação do casal. Veja algumas das condições que mais prejudicam as funções reprodutivas do homem:
Varicocele
A varicocele é a dilatação anormal das veias dos testículos, causada por falhas no retorno venoso. Essa doença tende a reduzir a oxigenação e aumentar a temperatura intratesticular, tornando o microambiente desfavorável para a produção e o amadurecimento dos espermatozoides.
Esse microambiente desfavorável pode levar a alterações seminais como oligozoospermia (redução da quantidade de espermatozoides no ejaculado), astenozoospermia (redução da motilidade), dentre outras.
Alterações hormonais
A deficiência de testosterona e de outros hormônios que regulam as funções reprodutivas masculinas pode interferir tanto na produção/qualidade dos espermatozoides quanto na libido e na potência sexual do homem. Há várias condições associadas aos desequilíbrios hormonais, como doenças endócrinas e alguns hábitos de vida.
Infecções genitais
Infecções genitais — causadas principalmente por ISTs — também podem afetar a fertilidade masculina, causando inflamação na uretra (uretrite), na próstata (prostatite), nos epidídimos (epididimite) e nos testículos (orquite). Entre as possíveis consequências dos processos inflamatórios está a formação de tecido cicatricial que obstrui a passagem dos espermatozoides podendo levar a um quadro de azoospermia obstrutiva (ausência de gametas no sêmen).
Alterações genéticas e congênitas
Em casos menos comuns, os homens são inférteis devido a alterações genéticas e cromossômicas que afetam a produção ou a qualidade dos espermatozoides. Defeitos congênitos, como ausência dos vasos deferentes ou do ducto ejaculatório, também estão entre as causas da infertilidade masculina.
Como diagnosticar as doenças que causam infertilidade?
Após, pelo menos, um ano de tentativas de gravidez — ou seis meses, quando a mulher tem mais de 35 anos —, o casal deve procurar um especialista em medicina reprodutiva que irá direcionar a investigação diagnóstica.
Na avaliação clínica, realiza-se a investigação do histórico médico e reprodutivo de ambos, hábitos de vida (tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, uso de anabolizantes etc.), diagnóstico anterior de IST, padrão menstrual da mulher e fatores de risco em geral. O levantamento das informações do casal é o ponto de partida.
É oportuno mencionar também que há algumas causas comportamentais associadas à infertilidade, como a baixa frequência das relações sexuais, o desconhecimento sobre o período fértil e o relacionamento entre pessoas homoafetivas.
A partir da avaliação inicial, vários exames podem ser solicitados. Dosagens hormonais, sorologias e exame do cariótipo são indicados para ambos os sexos. Já os exames específicos para a mulher incluem:
- ultrassonografia pélvica e/ou ressonância nuclear magnética;
- histerossalpingografia;
- histeroscopia;
- pesquisa de bactérias causadoras de endometrite;
- em alguns casos, análise de fatores imunológicos e trombofilias.
Os principais exames masculinos são:
- espermograma;
- teste de fragmentação do DNA espermático;
- ultrassom da bolsa escrotal.
Quais são as formas de tratamento para quem tem infertilidade?
O casal que está tentando engravidar pode começar adotando medidas simples para aumentar suas chances de concepção, como calcular o período fértil e fazer algumas mudanças nos hábitos para ter um estilo de vida mais saudável.
Após um ano de tentativas (ou 6 meses se a mulher tiver mais de 35 anos), os resultados da avaliação diagnóstica poderão identificar um fator potencialmente associado à infertilidade.
De modo geral, as abordagens que a medicina reprodutiva pode oferecer para aumentar as chances de uma pessoa ou casal engravidar são:
Cirurgias
O tratamento cirúrgico pode ser indicado para corrigir alterações estruturais que interferem na anatomia e/ou na função dos órgãos reprodutores. Veja exemplos:
- para o homem — correção de varicocele, reversão de vasectomia, entre outras;
- para a mulher — miomectomia, polipectomia, reversão de laqueadura, cirurgia de endometriose (em casos selecionados), retirada de sinequias uterinas, correção de septo uterino etc.
Coito programado ou relação sexual programada
O coito programado é um tratamento de baixa complexidade da reprodução assistida, no qual estimulamos de forma leve e controlada a ovulação da mulher e temos uma previsão do dia da ovulação. Então, o casal é orientado a ter relações sexuais durante os dias em torno da ovulação (período fértil). Também há suporte hormonal após esse evento.
Inseminação intrauterina
A inseminação intrauterina, popularmente conhecida como inseminação artificial, é outra técnica de baixa complexidade da medicina reprodutiva e consiste em: fazer uma estimulação ovariana controlada leve; submeter uma amostra de espermatozoides aos métodos de preparo seminal; introduzir a amostra seminal processada no útero.
Fertilização in vitro (FIV)
A FIV é uma técnica de alta complexidade, realizada em várias etapas para permitir o controle minucioso do processo de concepção em ambiente laboratorial. Os passos principais são: estímulo ao desenvolvimento dos gametas femininos; coleta dos óvulos; coleta e preparo do sêmen; fertilização dos óvulos; cultivo dos embriões em incubadora; análise genética dos embriões (opcional); transferência do(s) embrião(ões) para o útero.