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Congelamento de óvulos, sêmen e embriões

Por: Dr. Luiz Henrique Fernando

O congelamento de óvulos, sêmen e embriões é uma prática bem estabelecida na reprodução assistida e que pode ampliar possibilidades para pessoas que desejam ou necessitam postergar a maternidade ou paternidade.

A Medicina Reprodutiva passou por muitos avanços no decorrer das últimas décadas, dentre eles destaca-se a criopreservação, técnica que consiste em preservar materiais biológicos em temperaturas extremamente baixas (-196ºC).

O objetivo da criopreservação é suspender o metabolismo e manter as características biológicas dos materiais preservados, garantindo sua viabilidade celular. O processo de congelamento e descongelamento requer a adição de substâncias crioprotetoras, isto é, que protegem as células.

Com as técnicas atuais de criopreservação, como a vitrificação, é possível congelar tecidos biológicos rapidamente e sem danos. A vitalidade e a integridade das células são mantidas, mesmo que elas permaneçam congeladas por muitos anos.

A prática do congelamento de óvulos, sêmen e embriões já é realizada há muito tempo. No ano de 1983, houve o primeiro relato bem-sucedido de nascimento resultante de gravidez com óvulos descongelados. Atualmente, a criopreservação de gametas e embriões humanos é indicada em diversas situações, conforme você verá neste texto.

Indicações para o congelamento de óvulos, sêmen e embriões

A criopreservação de material genético, no âmbito da reprodução assistida, abre o leque de possibilidades para pessoas que querem ou precisam adiar seus planos de ter filhos, técnica chamada de preservação da fertilidade.

Entenda melhor cada uma dessas situações!

Congelamento de óvulos

O congelamento de óvulos é indicado na preservação oncológica da fertilidade feminina, bem como diante de outras condições médicas que necessitam de tratamento e possam colocar em risco as funções reprodutivas.

Os danos às funções ovarianas são efeitos colaterais frequentes dos tratamentos de câncer, como quimioterapia, radioterapia pélvica e cirurgia para retirada de tumores nos ovários. Portanto, a mulher deve ser devidamente esclarecida antes da terapia oncológica sobre sua opção de congelar os óvulos para aumentar as chances de gravidez no futuro.

Outras cirurgias ovarianas, como para retirada de endometrioma (cisto causado por endometriose nos ovários), também podem ser precedidas de coleta e congelamento dos óvulos, uma vez que a cirurgia oferece potencial risco de diminuição de reserva ovariana.

Mulheres com risco de falência ovariana prematura (menopausa precoce) também são aconselhadas a criopreservar seus gametas quando ainda os têm em número suficiente.

A preservação social da fertilidade é mais uma indicação importante, quando falamos em criopreservação de óvulos. Devido a objetivos profissionais, busca por estabilidade financeira, mudanças nas dinâmicas dos relacionamentos amorosos e outros aspectos do estilo de vida, as mulheres têm postergado a maternidade para próximo dos 40 anos.

Com o avanço da idade, há uma redução significativa da fertilidade em razão do envelhecimento das células. Sendo assim, congelar seus gametas antes dos 35 anos, é uma excelente alternativa para mulheres que querem adiar os planos de gravidez.

Por fim, outra situação que envolve o congelamento de óvulos é a ovodoação. A doação de óvulos envolve a entrega do material genético de uma doadora para que outros casais, que não têm gametas femininos em quantidade ou qualidade suficiente, possam gerar seus filhos. Na doação voluntária, esse material é recebido em caráter de anonimato e permanece congelado, até que seja escolhido por uma família.

Congelamento de sêmen

Assim como na situação das mulheres, os homens podem realizar o congelamento de sêmen antes de iniciar um tratamento oncológico ou outro procedimento médico que coloque em risco a produção ou a qualidade dos espermatozoides (exemplo: cirurgia para correção de varicocele).

Homens que tem uma piora muito rápida na qualidade do sêmen devido à varicocele podem congelar seu material por prevenção. Essa doença pode afetar a produção de espermatozoides ou a qualidade espermática, pois envolve represamento sanguíneo, aumento da temperatura intratesticular e diminuição da oxigenação.

O congelamento de sêmen também é comumente realizado no contexto da doação de sêmen. Tratamentos de reprodução assistida com sêmen doado são indicados para casais com alterações severas na qualidade espermática, casais homoafetivos femininos e mulheres solteiras.

O acompanhamento médico para análise e congelamento do sêmen é geralmente feito com o urologista.

Congelamento de embriões

Em um ciclo de FIV, vários óvulos podem ser coletados, gerando múltiplos embriões. Entretanto, nem todos são transferidos para o útero. Há regras que permitem a transferência de, no máximo, 2 ou 3 embriões, dependendo da idade da mulher.

Nos tratamentos atuais, sempre que possível, transferimos apenas um embrião, com o objetivo de evitar gestação gemelar. Então, é feito o congelamento dos embriões excedentes, que poderão ser transferidos para o útero em futuras tentativas de gravidez ou doados para a formação de outras famílias.

O congelamento de todos os embriões gerados em um ciclo também é realizado com frequência. O método é chamado de freeze-all e pode ser indicado quando:

  • a mulher tem muitos óvulos, os níveis hormonais ficam elevados e há risco de síndrome do hiperestímulo ovariano (SHO), condição que prejudica a receptividade uterina;
  • o casal tem indicação ou desejo de realizar biópsia embrionária e teste genético pré-implantacional (PGT), que faz o rastreio de anormalidades nos genes e cromossomos dos embriões;
  • o casal opta pelo congelamento de embriões como forma de preservação da fertilidade, antes de um dos parceiros se submeter a tratamento médicos que coloquem em risco as funções reprodutivas.

Técnicas envolvidas

Há duas técnicas de criopreservação: o congelamento lento e a vitrificação. O método mais empregado atualmente para congelar óvulos, sêmen e embriões é a vitrificação, que consiste no congelamento ultrarrápido dos materiais biológicos, evitando a formação de cristais de gelo e melhorando a taxa de sobrevivência dos gametas e embriões.

O descongelamento dos gametas e embriões é igualmente seguro para as células.

Os óvulos descongelados são utilizados somente em programas de FIV, seguindo ainda as etapas de fertilização em laboratório, cultivo embrionário e transferência para o útero. O sêmen descongelado pode ser utilizado em dois tipos de tratamentos: fertilização in vitro e inseminação intrauterina.

O congelamento de óvulos, sêmen e embriões é uma etapa fundamental de vários tratamentos de reprodução assistida, pois permite concepções futuras quando a fertilidade natural pode ser prejudicada de alguma forma.

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