Em 1978, na Inglaterra, aconteceu o primeiro tratamento bem-sucedido de fertilização in vitro (FIV). Deste tratamento nasceu Louise Brown, hoje uma mulher com mais de 40 anos de idade. Desde então, o desenvolvimento tecnológico e a evolução dos estudos nas áreas de fisiologia humana, genética e biologia molecular contribuíram para o avanço dessa técnica de reprodução assistida, beneficiando milhares de pessoas.
O que é fertilização in vitro (FIV)?
A FIV é uma técnica de alta complexidade da reprodução assistida que consiste em unir os óvulos e espermatozoides em um processo de fecundação fora do corpo feminino, em laboratório de embriologia. Em seguida, os embriões resultantes ficam em um período de cultivo, sendo monitorados em incubadoras específicas, que garantem o ambiente necessário para o início do desenvolvimento embrionário.
Os avanços no contexto da FIV permitiram até mesmo a análise genética de embriões antes de transferi-los para o útero, proporcionando maior segurança e efetividade do tratamento.
Com a FIV, inúmeros motivos que impedem os indivíduos e casais de engravidar naturalmente podem ser superados, incluindo: disfunções ovulatórias; endometriose; obstrução das tubas uterinas; doenças que comprometem o útero; ausência ou baixa concentração de espermatozoides no sêmen; entre muitos outros fatores de infertilidade feminina ou masculina.
Atualmente, estima-se que até 15% dos casais em idade fértil tenham dificuldade para engravidar, e esse número pode aumentar nos próximos anos devido a fatores do estilo de vida contemporâneo, sobretudo o adiamento da maternidade e paternidade.
Nesse cenário, a fertilização in vitro pode representar uma esperança para os indivíduos com infertilidade, bem como para pessoas solteiras e casais homoafetivos que sonham ter um filho.
Quais são as etapas da fertilização in vitro?
A FIV começa com o estímulo ao desenvolvimento dos óvulos, seguido pela coleta dos gametas femininos e masculinos e a fertilização. O tratamento é finalizado com a transferência do(s) embrião(ões) para o útero.
Veja o passo a passo da fertilização in vitro:
Estimulação ovariana
A estimulação controlada dos ovários, feita com medicações hormonais, é importante para maximizar o número de oócitos ou óvulos que vão para a etapa de fertilização.
Naturalmente, uma mulher libera apenas um óvulo maduro por ciclo menstrual. No tratamento da fertilização in vitro, os ovários são estimulados a produzir o máximo de óvulos que aquela mulher pode oferecer em um único ciclo menstrual e por meio de exames de ultrassom transvaginal e dosagens hormonais realiza-se o monitoramento do crescimento desses folículos ovarianos, unidades que guardam os oócitos.
Quando os folículos apresentam o tamanho esperado (cerca de 18 mm), a maturação final é desencadeada com a administração de mais um medicamento hormonal. Cerca de 35 horas após a administração dessa última medicação é realizada a coleta dos oócitos.
Coleta dos oócitos e coleta do sêmen com preparo seminal
A coleta dos oócitos é feita por via vaginal por meio de uma punção guiada por ultrassonografia. O líquido de cada folículo (“casa do óvulo”) é aspirado com uma agulha e o material é analisado em laboratório. Os óvulos, então, são identificados e separados para a fertilização.
Os espermatozoides geralmente são obtidos por ejaculação. Em seguida, o sêmen coletado é processado.
Quando não é possível obter sêmen por ejaculação (indivíduos vasectomizados, com dificuldade de ereção, entre outros motivos), outras técnicas podem ser feitas, como procedimentos de recuperação espermática (PESA, MESA, TESE e Micro-TESE), que envolvem punção ou microcirurgia para retirar os espermatozoides dos órgãos reprodutores (testículos ou epidídimos).
Fertilização dos óvulos
Na maior parte dos tratamentos atuais, a fertilização é feita com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI).
Com a ICSI, um único espermatozoide é micromanipulado e injetado diretamente no citoplasma de um óvulo. Dessa forma, é possível saber exatamente o momento da fertilização, o que permite um melhor controle do desenvolvimento embrionário.
Cultivo embrionário
Os óvulos fertilizados ficam em incubadora para cultivo embrionário por até 7 dias. Nesse período, os embriões são diariamente monitorados por um embriologista, que pode verificar possíveis falhas no processo de desenvolvimento, além de identificar os embriões com maiores chances de implantação.
Transferência dos embriões para o útero
Os embriões são transferidos após 5 a 7 dias de cultivo, quando atingem o estágio de blastocisto. O número de embriões a ser transferido depende da idade da paciente, do desejo dos indivíduos envolvidos e do aconselhamento do médico assistente.
Atualmente, tenta-se evitar gestações múltiplas (gemelares, trigemelare e assim por diante), portanto a tendência é transferir sempre um único embrião por vez.
Após a transferência, os embriões que não foram transferidos (remanescentes) devem ser congelados.
Frequentemente, a transferência de embrião(ões) não acontece no mesmo mês em que se realiza a estimulação ovariana e formação dos embriões. Isso se deve ao fato de que os níveis hormonais elevados provocados por esse processo podem prejudicar a receptividade do útero naquele ciclo. Dessa forma, congelam-se todos os embriões e a transferência só acontece a partir do ciclo seguinte. A biópsia com análise genética de embriões também, de modo geral, faz com que a transferência de embrião(ões) seja postergada.
Biópsia embrionária. O que é?
De acordo com as condições de cada casal, pode ser recomendado acrescentar técnicas que complementam a FIV e ajudam a superar fatores específicos de infertilidade. Entre essas técnicas complementares, estão:
- PGTa: o teste genético pré-implantacional para aneuploidias é realizado com frequência atualmente. O objetivo é rastrear anormalidades cromossômicas nos embriões antes da transferência para o útero. Doenças cromossômicas como síndrome de Patau, Edwards, Turner ou Down podem ser evitadas por essa técnica;
- PGTm: teste genético que tem como objetivo pesquisar uma doença genética específica presente nos indivíduos que estão sob tratamento ou presente em algum parente próximo. Um exemplo é a anemia falciforme. Algumas pessoas são portadoras dos genes dessa doença (mas não desenvolvem a doença). Se ambos os parceiros tem esse gene, há risco de 25% de gerar um filho com a doença falciforme. Com o PGTm, podemos identificar se o embrião terá a doença, será apenas portador de um gene (assim como os pais) ou se não será portador;
- PGTp: teste para doenças poligênicas com o objetivo de detectar no embrião a presença de genes que podem oferecer aumento de risco ao longo da vida de Diabetes 1, Diabetes 2, Câncer de mama, Doenças Arteriais Coronárias, entre outras condições. É possível fazer o screening de uma, algumas ou de todas as condições de um painel genético pré-determinado.
Quais são as taxas de sucesso da FIV?
A FIV é a técnica mais eficaz para auxiliar na gravidez de casais inférteis. As taxas de êxito dependem de muitos fatores, porém os principais são a idade da mulher e a quantidade de óvulos que seus ovários podem fornecer durante a estimulação ovariana. Outros aspectos de grande relevância são a qualidade do sêmen, a presença de doenças uterinas, entre outras.
As chances podem ser de 5% a 90%, dependendo dos fatores acima descritos. A individualização nesse tipo de tratamento é fundamental.